O Aristocrata Clube, fundado em 1947, é mais do que um espaço físico: é um marco da resistência negra. Um reduto onde cultura, política e identidade negra se entrelaçaram ao longo das décadas, fazendo do local um símbolo de luta, memória e resistência.
Por isso, não poderia haver cenário mais emblemático para o Seminário do Protagonismo Negro nos Espaços de Poder, organizado pela Nova Frente Negra. Ali, naquele espaço carregado de ancestralidade, encontrei muito mais que um evento: encontrei um espelho, um chão firme, um rito de passagem.
Artistas, ativistas, educadores, gestores públicos, lideranças periféricas, vieram de Araçatuba, São Bernardo do Campo, Campinas, Ribeirão Preto, Praia Grande etc. Era como se os tambores do Brasil inteiro estivessem ali, tocando juntos, vibrando na mesma frequência. O salão se encheu de futuro sem abandonar o passado.
As mesas temáticas abordaram políticas públicas, comunicação, cultura, juventude, empreendedorismo e justiça racial. Mas, para mim, aquele momento era muito mais do que discussão técnica. Era afirmação. Era inscrição no tempo.
Naquele ambiente, não fui exceção, nem vitrine, muito menos figurante.
Fui presença. Corpo inteiro. Fui voz.
Depois de tantas portas fechadas, de e-mails ignorados, de silêncios atravessados, encontrei o lugar onde não precisei me encolher.
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O Aristocrata Clube se encheu de tambor, memória e luta. Onde tantas vezes o movimento negro ecoou falas potentes de quem há séculos costura o tecido da nação, sem jamais ter seu nome bordado no brasão, eu presenciei o nascimento de um novo instrumento de luta: o Partido Frente Brasileira.
Mas não se trata de um partido qualquer.
É uma ferramenta política escrita com a tinta dos nossos ancestrais.
Tecido com o fio da coletividade, da democracia racial, do compromisso com os invisíveis.
Sob a liderança do Dr. Tadeu Kaçula, com falas potentes de Orlando Silva, Luana Alves, Dra. Jaqueline Lima, Wagner Prado, Deise Benedito, entre tantos outros, o seminário deixou claro: o movimento negro não pede convite. Constrói a própria mesa. Com estratégia, com afeto e com história.
Entre um poema lido, um hino entoado e uma diplomação celebrada, percebi:
eu não estava mais sozinha.
Aquela pedra do meu quebra-cabeça, que por anos carreguei sem saber onde encaixar, finalmente encontrou um lugar.
A história que escrevo com a caneta e a alma, encontrou eco.
Quando criamos nossa própria mesa de poder, a história inteira muda de rumo.
Por Claudia Canto
Escritora e Palestrante
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