Em todas as narrativas, que são verdadeiras, existe um pouco de ficção onde os narradores incluíram imaginação ou distorção dos fatos que naturalmente ocorrem ao passar a história de boca em boca ao longo do tempo.
Tomei a liberdade de pesquisar um pouco sobre o tema e procurei por testemunhas oculares daquilo que realmente aconteceu, e pude concluir que, se todos que afirmam terem visto o ocorrido estiverem falando a verdade, mais pessoas que a população de Itaquera na época esteve presente no Campo do Elite naquele momento.
Tendo em vista o fato de que a maioria que afirma ter visto o ocorrido, realmente não o viu, vou descrever aqui o fato a mim narrado pelo próprio Cebolinha (quem atirou a pedra) e pelo Jaimão (na época o funcionário do Bradesco que entregava os malotes ao piloto diariamente)
O ato ocorreu nos idos de 1969, porém ninguém soube me informar exatamente a data.
O Banco Bradesco havia contratado um serviço de transporte aéreo de seus malotes para as agências que ficavam mais distantes de seu centro de processamento, eram malotes que transportavam documentos e não dinheiro, pois estes eram transferidos de carro forte.
Diariamente o helicóptero descia pontualmente as 16 horas no campo do Elite e o Jaimão acompanhado de um segurança do Banco lá ficavam a espera para entregar o malote.
Normalmente nas tardes a garotada da região brincava de pelada de futebol no campo, pelada esta que era interrompida com a chegada do helicóptero.
Depois de algum tempo desta rotina, os garotos, que não eram santinhos e como se dizia, tinha o capeta no corpo, criaram um desafio que era o de se pendurar nas barras de aterrisagem do aparelho exatamente quando ele levantava voo, e assim que ele iniciava a decolagem se soltavam. O último a se soltar vencia o desafio.
Neste dia Cebolinha e seu irmão mais velho o Trico estavam no campo participando da pelada, e quando o helicóptero pousou o Trico falou para o Cebolinha que ele era pequeno e não poderia participar da disputa de pendurar no aparelho que seria muito perigoso par um garoto do tamanho dele.
Pois bem, Cebolinha ficou decepcionado e com muita raiva, pois queria também pendurar-se no helicóptero. Para descontar sua raiva então planejou de jogar uma pedra no aparelho assim que este levantasse voo com a garotada agarrada a barra de aterrisagem. Escolheu uma boa pedra na beirada do campo e colocou-se em posição privilegiada para desferir o tiro fatal.
Dito e feito, assim que o helicóptero iniciou a manobra de decolagem o capetinha do Cebolinha mandou a pedrada certeira.
A pedra atingiu a hélice traseira que dá a direção ao aparelho, e com toda a potência dessa hélice a pedra foi atirada contra a cabine de comando atravessando o vidro de lado a lado na altura de onde estaria a cabeça do copiloto.
Quem viu pode contar que o bicho após ser alvejado mais parecia uma libélula embriagada, deu umas quatro ou cinco voltas em torno do eixo e caiu como um pássaro ferido no centro do campo.
Quando aconteceu, apenas o Jaimão sabia que tinha sido o Cebolinha, pois, ao contemplar a subida do helicóptero, pode ver o momento exato do arremesso certeiro.
O helicóptero ficou no campo por mais ou menos uma semana e foi a principal atração turística da história de Itaquera. Foi finalmente desmontado e transportado de carreta.
Após o ocorrido nunca mais um helicóptero pousou no campo do Elite que hoje não mais existe, porém continuou a transportar os malotes passando a pousar no campo da NIFE que era dentro da fábrica e protegido.
Cebolinha em sua entrevista me contou que ao ver o estrago que havia causado, saiu em disparada, subindo o barranco da linha do trem e foi se esconder entre as sacas de cereais na venda do Pilãozinho, e ao anoitecer foi para sua casa onde permaneceu por dois dias escondido debaixo da cama.
Cebolinha me contou que os garotos mis velhos iam até a sua casa e da rua gritavam que a polícia o estava procurando. Ele só saiu debaixo da cama, quando seu irmão Tricão falou que não havia polícia nenhuma e que também botara a molecada para correr.
Manchete do jornal Notícias Populares do dia seguinte:
“ÍNDIOS DE ITAQUERA DERRUBAM HELICÓPTERA FLEXADA”
Hoje Cebolinha é um respeitado árbitro de futebol de salão da região e o Jaimão se aposentou e mora no Mato Grosso onde se dedica aos cuidados de sua irmã mais velha e à música que sempre foi sua paixão.
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