O FIMP – Festival Itaquerense de Música Popular aconteceu entre os anos de 1978 e 1992 e atraia músicos de todo o Brasil, em uma época que não havia internet. A divulgação era feita através de cartazes e rádios de todo o País. Os produtores enviavam cartas paras as rádios e depois eram gastas muitas fichas nos “orelhões azul’, para pedirem aos programadores que divulgassem o festival em suas rádios.
Até hoje muitos daqueles que participaram estão aí, alguns dão aula de música como o violinista Manoel Lopes e outros seguem carreira com shows e lançando sempre novos trabalhos, como o cidadão são-miguelense Edvaldo Santana. Mas a lista é imensa e inclui Sasha Arcanjo, Ceciro Cordeiro, Klaujur, entre muitos outros.
Voltar com um festival em plena era que a tecnologia muitas vezes consome o intelecto das pessoas, não é missão fácil. Quem teria esta coragem? Quem teria este atrevimento de em pleno século 21 voltar com Fimp que parou há 30 anos?
Quem encara este desafio é Athina Marsura, comerciante, terapeuta, ativista cultural, músico e, sobretudo, é portador do ‘dna do ideal pela música’. É filho do idealizador do FIMP, Waldo Lopes e neto de um dos maiores violinistas da história de Itaquera, Otávio Marsura, que ficou conhecido como Tô Sapateiro.
Nesta retomada ele conta com o apoio da mãe Monica Marsura, que participou das primeiras edições e de Tiago Silva idealizador do Lual da Praça, juntamente com Denis Calixto.
O FIMP volta com outra roupagem, com shows e o festival competitivo. O nome tem uma pequena mudança, ao invés de ‘música popular’, passa a ser ‘música periférica’ ou seja: Festival Itaquerense de Música Periférica.
Já aconteceu uma edição na Praça da Estação em Itaquera, está programada outra para os próximos dias. E para o final do ano, os produtores estão em busca de apoio para promover a versão competitiva com premiação, corpo de jurados e toda a produção necessária que este tipo de evento necessita.
Monica Marsura participou de seis edições do FIMP em uma época que a divulgação era feita através de lambe-lambe(cartazes colados em postes e muros), faixas, panfletos e muito ‘boca a boca’, como ela lembra.
‘O patrocínio era muito difícil, muitos apareciam querendo apoiar, mas o interesse era meramente político, não estavam nem aí com a questão cultural’, comenta. Ela que foi esposa do Waldo Lopes durante 7 anos, viu tudo surgir, desde a concepção da ideia até a realização.
Cada edição do festival chegou a ter até mais de 200 músicas inscritas, muitas do interior paulista e até de outros Estados. Entre os participantes ela lembrou, da Banda Utopia que depois se tornaria o Mamonas Assassinas e de São Miguel Paulista o grupo Matéria Prima, que revelou Sasha Arcanjo, Ceciro Cordeiro e Edvaldo Santana.
Athina Marsura conta como surgiu a ideia da retomada do Fimp. ‘A ideia surgiu, antes do meu pai falecer. Conversávamos muito e ele sempre teve vontade de retomar com o Fimp, chegamos até colocar alguma coisa no papel’’, conta.
‘Depois que ele faleceu montei uma banda com alguns amigos. Certo dia chegamos à conclusão que Itaquera tem muito pouco em relação a iniciativas culturais. Temos o Lual da Praça e muito pouco além disso’, concluiu.
Ele conta que com o apoio da sua banda, a AP22, surgiu a ideia de retomar o FIMP e de pronto conseguiu a adesão do Coletivo Quilombo Periférico que detém um mandato na Câmara Municipal paulistana e também do vereador Toninho Vespoli
‘Eles acreditaram no projeto sem pedir nada em troca. Mandaram toda a estrutura necessária para um evento de qualidade, como som profissional e palco’ e já se comprometeram com outras edições’, comenta nitidamente agradecido e avisa que o projeto prevê a realização de um show a cada dois meses e no final do ano a versão competitiva.
O primeiro aconteceu na Praça da Estação no dia 23 de abril e contou com shows das seguintes bandas: Acid Hearts (classic rock), O Moio (black music), AP22 (mpb e pop), ThreedSkateRock (rock Nacional) Artivistas (reggae) além de intervenções poéticas com Lívia Pardinho e Clamant.
‘Graças ao apoio que recebemos do Quilombo Periférico tivemos uma estrutura de ponta, desde o palco, até o som’, agradece.
Quem também está nesta empreitada é o Tiago Silva líder e vocalista da Artivistas e idealizador do Lual da Praça que acontece todas as quintas feiras na Praça Brasil. ‘Quando recebi o convite do Athina aceitei de pronto pois a proposta é justamente o que eu penso que é propagar a música e como diz Milton Nascimento, o artista tem que ir onde o povo está. E o Fimp é exatamente isso’, destacou.
Tiago Silva avalia a volta de um festival competitivo como um desafio com barreiras a serem ultrapassadas. ‘O Fimp para mim é uma baita experiência e é exatamente o que eu sempre procurei que é dar espaço para outros artistas. Acredito muito no Fimp’, finalizou.