Abrem-se as janelas, das casas e barracรตes,
de tรกbuas e alvenarias,
E comeรงa um novo dia.
O bar e mercearia do Seu Joaquim!
Jรก de portas abertas, pra vender pรฃozinho francรชs.
Dona de casa sai pra comprar o pรฃo.
O ocioso, jรก com copo de รกlcool no balcรฃo.
Homens e mulheres se enfrentando
nos pontos, ร espera de lotaรงรฃo.
Uns jรก atrasados outros jรก cansados.
Todos assalariados.
Amanhece o dia, na periferia.
Crianรงa descalรงa, jogando bolinhas.
Soltando pipas, enquanto a mรฃe grita.
ร hora da creche, รฉ hora da escola.
Uns vรฃo, outros pedem esmola.
Os carrinhos de mรฃo passando nas vielas
em busca de panelas.
Papelรตes, plรกsticos e latas velhas.
Vem o homem do queijo, a moรงa solta um bocejo.
Passa o verdureiro, maรงรฃ e algodรฃo-doce, batem o tabuleiro.
O caminhรฃo do gรกs apita primeiro.
Passa o carro de produtos de limpeza.
ร assim o dia inteiro.
O carteiro juntamente com o bicheiro.
Um traz cartas de saudaรงรตes nordestinas.
O outro quer o dinheiro dos vizinhos.
O cachorro late, a moto passa, o carro bate.
Meninos e meninas brincando de bicicleta.
Moleques que jogam bola, a toda hora.
Brincar de pega-pega, polรญcia e ladrรฃo.
Esconde-esconde, a realidade de uma naรงรฃo.
Os rapazes nos becos sempre alerta.
Nas ruas o apito de um guarda.
Na viela um corpo que cai.
Aquele nรฃo era mais um pai?
Amanhece o dia.
O dia amanhece na periferia.
(do livro: O ex โ excluรญdo โ poemas e prosa)
Germano Gonรงalvez, morador do bairro Pq. Sรฃo Rafael zona leste, natural de Sรฃo Caetano do Sul, SP, em abril de 1963. Estรก como escritor, poeta e professor. Estรก engajado na literatura urbana marginal. Realiza projetos no incentivo a leitura, e รฉ o idealizador do sarau urbanista concreto. Tem trรชs obras publicadas por editoras independentes; O ex-excluรญdo – poemas, Literatura urbana marginal โ ensaio social e Contos marginais โ contos perifรฉricos. Faz parte da organizaรงรฃo Forรงa Cultural nos assuntos literรกrios.